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Em março a CNA-PRR acompanhou o roteiro para a descarbonização da indústria do vidro de embalagem e cristalaria, com 6 unidades fabris em Portugal, a caminho da 3ª transição energética.

A indústria do vidro de embalagem e cristalaria, é um setor energeticamente intensivo, tendo já passado por 2 transições energéticas nos últimos 20 anos, primeiro do fuelóleo para o gás natural e entrando posteriormente na eletricidade e biocombustíveis (que ainda se encontra em desenvolvimento). O PRR veio trazer a possibilidade de acelerar esta transição, quer intensificando a utilização da eletricidade, quer preparando para a utilização de hidrogénio verde ou outros gases renováveis. É, no entanto, uma indústria em que o produto final não precisa de revestimentos para estar em contacto com a comida, não é tóxico e pode integrar 100% de material reciclável.

A apresentação do roteiro para a descarbonização desta indústria (RODIV2050), que ainda se encontra a dar os primeiros passos, tem como objetivo criar condições que permitam alavancar esta nova fase da descarbonização (aliada à transição energética), promovendo uma discussão alargada dos cenários e caminhos de transição identificados e criar condições para que se estabeleçam pontes de diálogo com os decisores políticos e autoridades nacionais.

Em termos de dimensão, o setor do vidro para embalagem é um setor que representa cerca de 700 milhões de euros de volume de negócios (60% para exportação), emprega cerca de 3.500 pessoas (das quais cerca de 2.000 diretamente), englobando 6 unidades fabris (de 3 empresas), que utilizam 16 fornos e fabricam mais de 6 mil milhões de embalagens (com incorporação de mais de 50% de vidro reciclado).

Neste Roteiro de Proximidade, visitaram-se 2 unidades industriais exemplo do setor (quer do vidro para embalagem, quer da cristalaria). Apesar das diferenças em termos de incorporação de reciclado (mais difícil na cristalaria e no vidro transparente), as matérias-primas são idênticas (areia, soda, calcário e alumina, fundidos a alta temperatura) e os desafios de descarbonização são muito idênticos.

Apesar de já existirem hoje fornos que conseguem ter uma utilização 50-50% entre gás natural e energia elétrica e de várias experiências para aumentar a incorporação de eletricidade, esta utilização a 100% nesta indústria é um desafio técnico e económico significativo, devido ao elevado investimento na infraestrutura elétrica e ao elevado consumo aliado a uma necessidade de utilização constante. A eliminação do gás natural é, no entanto, uma necessidade para a descarbonização, uma vez que 80% das emissões provém da combustão do gás natural (os restantes 20% provém do processo de combustão das matérias-primas).

Destes desafios emergem outros, como é o caso da adequação dos revestimentos dos fornos ao hidrogénio ou a outros gases renováveis, (com investigação e testes em curso no CTCV – Centro de Tecnologia e Inovação), sendo que a grande incógnita é o mix adequado de fontes energéticas. Esta necessidade de testes, validação e experimentação, no que diz respeito a estas novas fontes, para os seus diferentes fins, foi uma das problemáticas que a CNA-PRR deixou no seu último relatório e que urge avançar, sendo que não há (que seja do conhecimento de experimentados tecnólogos portugueses), utilizações suficientemente testadas no mundo, pelo que a aposta está a ser feita ao mesmo tempo que se vai investigando e testando. Mas o tempo da experimentação não se coaduna com o tempo já curto para as decisões de investimento da indústria, que precisa de substituir os seus fornos sem sustentabilidade económica e ambiental e alguns já em fim de vida útil.

Para além da substituição dos fornos e da alteração da fonte de energia, a descarbonização passará também por outras ações, tal como a utilização de mais vidro reciclado. Para este último objetivo, é necessário o envolvimento de diversos atores, incluindo os consumidores e as entidades de recolha e tratamento de resíduos.

Na intervenção que fez, o Presidente da CNA-PRR, Pedro Dominguinhos, realçou o facto dos Roteiros para a Descarbonização terem permitido que os players do setor tenham definido as ações adaptadas a essa indústria e que culminam no seu próprio plano de ação. Neste caso específico, chamou a tenção para um longo caminho ainda a fazer, fora desta rede de indústria, que impacta a possibilidade real de utilização de energias renováveis. Exemplo disso é o facto de, neste momento, a rede instalada ainda não ser suficiente para recolher e distribuir a energia elétrica necessária, nem tão pouco o hidrogénio ou outros gases renováveis. Reforçou a necessidade de as empresas que participam nesta jornada da descarbonização não concentrarem apenas os seus esforços na questão tecnológica, mas também na liderança transformadora e na capacitação dos seus trabalhadores.

Deixou a nota, dirigida às entidades responsáveis, de que é preciso alterar o paradigma de organização administrativa, não devendo o ónus ser colocado nas empresas para “fazer o caminho das entidades”, mas sim as entidades a “fazer o caminho do país” e identificar as necessidades das empresas. Para além deste caminho nacional, deixou ainda a chamada de atenção para o facto de ser também fundamental ter uma voz ativa no Parlamento europeu, com a contribuição nacional deste conhecimento que se vai gerando. Neste caso específico dos Roteiros, deixou também a nota ao IAPMEI para a necessidade de continuar a aprimorar os modelos de acompanhamento, não apenas a nível administrativo e financeiro, mas identificando também indicadores comuns entre os vários roteiros de descarbonização e indicadores que permitam medir os resultados e impactos, com preocupação particular ao nível do ESG.

Estas são as entidades que fazem parte do consórcio RODIV2050 .

Abril 1, 2024