A Bondalti é um grupo industrial ibérico, líder na indústria química em Portugal, sendo o maior produtor ibérico de cloro e líder europeu em anilina e nitrobenzeno (em termos de vendas). Em 2023, o grupo registou um volume de vendas de 500 M€ e conta com 750 trabalhadores.
No dia 1/10, a CNA-PRR visitou a unidade produtiva da Bondalti em Estarreja. Neste complexo industrial, são produzidas 1,5 M Ton/ano de produtos químicos orgânicos (como anilina e derivados) e inorgânicos (Cloro-Álcalis), que são fornecidos para diversas indústrias, incluindo as que se dedicam ao tratamento de água, coloração de têxteis, produção de detergentes, fabricação de pasta de papel, entre outras aplicações no dia a dia ou como matérias-primas de processos industriais.
Sendo uma indústria pesada e de base, a Bondalti enfrenta desafios relevantes relacionados com a atração de trabalhadores, elevado consumo de energia e significativa pegada de carbono.
Apesar disso, a Bondalti é uma referência no ciclo da água a nível ibérico e tem implementado várias melhorias de eficiência ao longo dos anos. No entanto, a transição para se tornar uma empresa intensiva em eletricidade seria inviável sem o apoio do PRR, que está a financiar um investimento de 76 M€ (com 30,9 M€ de financiamento).
Durante a visita, ficou evidente a complexidade dos projetos em curso relacionados com a descarbonização, com destaque para:
– Reconversão tecnológica da eletrólise eletro-intensiva de salmoura (matéria-prima) que produz soda cáustica, cloro e hidrogénio;
– Instalação de uma nova caldeira elétrica para substituir a atual caldeira a gás, responsável pela geração de vapor;
– Construção de um parque fotovoltaico para autoconsumo;
– Implementação de 12 MW de armazenamento elétrico (único em Portugal), com duas subestações para abastecer as fábricas de cloro e anilina;
– Armazenamento elétrico para aproveitamento de excedentes e gestão de intermitências.
Além da redução de gases com efeito de estufa e da economia de energia, prevê-se um aumento na produção de energia elétrica a nível nacional. A produção de hidrogénio verde será também uma das consequências deste investimento.
Como é habitual, destacamos também os desafios que acompanham estes investimentos, muitos dos quais, comuns a outras empresas:
– Prazos de execução extremamente apertados, e uma pequena falha pode resultar em derrapagens significativas.
– Processos de licenciamento complexos, envolvendo várias entidades, muitas vezes com incoerências, e interlocutores responsáveis que vão sendo alterados, sem que haja registo do histórico.
– Preocupações de atrasos por parte de fornecedores, além dos prazos das entidades públicas.
– Por essas razões, a prorrogação do prazo das metas em 2 trimestres (para junho 2026) seria crucial, com esse anúncio o quanto antes, pois impacta diretamente as decisões de investimento.
A visita de 1/10, permitiu à CNA-PRR obter mais informação sobre outros projetos PRR em curso, nomeadamente a agenda mobilizadora (AM) NGS – New Generation Storage e a agenda verde (AV) H2 Enable, que à data de reporte no último relatório CNA-PRR, encontrava-se executada a 1%.
A AM NGS pretende abarcar a totalidade da cadeia de valor de produção de componentes, packs e reciclagem de baterias, com um objetivo comum: a criação de um novo ecossistema tecnológico na área das baterias a partir da transformação estrutural do tecido produtivo nacional e uma cadeia de valor completa que permita a gestão de fim-de-vida.
No caso do grupo Bondalti, estão diretamente relacionados com o lítio, através da empresa Lifthium Energy, que entrou recentemente nesta AM, ao lado da Bondalti Chemicals.
A partir do know how do processo de eletrólise, está prevista para a 1ª fase, a criação de uma fábrica de demonstração, em Coimbra, antes do projeto poder ganhar escala. A escala pode ser mais ou menos demorada, dependendo do avanço da cadeia de lítio em Portugal, sendo estes os primeiros passos para criar sinergias com a produção. Não existindo produção em Portugal, será necessário proceder a importação do produto para testar a fábrica modelo.
Existem por isso várias indefinições e incertezas, relacionadas quer com o licenciamento ambiental, quer com a decisão final de implementação.
No caso da AV H2Enable, a participação é com a empresa Bondalti H2 (que é a líder de projeto), sendo que a Bondalti Chemicals também participa.
O objetivo do projecto acelerar e transformar a cadeia de valor do hidrogénio verde em Portugal, através da construção de uma fábrica de grande escala, no complexo industrial de Estarreja e das respetivas infraestruturas de suporte.
A produção de hidrogénio verde não é ainda um mercado maduro, registando-se muitos projetos novos, mas também muitos projetos a caírem ou a diminuírem a ambição, quer em Portugal, quer noutros países. A indefinição e incertezas quanto às tecnologias de produção e os elevados custos financeiros, fazem com que só seja exequível economicamente se houver níveis de financiamento como o PRR. A Bondalti escolheu a tecnologia mais madura do mercado e aquela de que detém know how (eletrolisadores).
Para que esta AV possa avançar, será preciso ultrapassar a incerteza e indefinição relacionadas com a injeção na rede, certificação de origem, licenças de emissão, entre outros, situações que dependem de diversos organismos públicos. A produção será grande e sem histórico neste tipo de contratação e distribuição no país.
Todas estas incertezas fazem pairar o espectro do prazo, que de acordo com o PRR deverá ser Dez /25. No entanto, com uma construção que demora 24 meses, a janela temporal de decisões está a fechar-se.




Outubro 11, 2024